Ficar pendurado foi um ato de defesa, diz 'patriota do caminhão'

Ficar pendurado foi um ato de defesa, diz 'patriota do caminhão'

 

Em entrevista à Folha, bolsonarista afirma que achou que iria morrer e que movimento 'é pelo Brasil'

Porto Velho, RO - O empresário Junior Peixoto, 41, ganhou uma fama inesperada na semana passada. Participante de um ato antidemocrático que rejeita a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), sua imagem agarrado a um caminhão em movimento viralizou nas redes sociais.

Desde então, Peixoto ficou conhecido como "patriota do caminhão". E virou meme.

Em entrevista à Folha nesta segunda (7), ele afirma que se sente exposto com a repercussão das imagens.

O vídeo, gravado em uma rodovia em Pernambuco, mostra o empresário vestindo uma camiseta amarela e boné na mesma cor e uma manifestação em Caruaru na última quarta-feira (2).

Questionado, disse que prefere não comentar temas como o resultado das eleições 2022, que resultaram na vitória de Lula.

"Acho um tema muito delicado para um cidadão comum, que não tem nenhum tipo de imunidade, tocar nesse assunto. Sou eleitor de Bolsonaro, se houver a oportunidade de ele pleitear uma campanha novamente, eu votarei nele, farei campanha, farei o que for possível, porque ele me representa. Mas o movimento, em si, deixou de ser por Bolsonaro. O movimento em si é pelo Brasil", afirma.

Morador de Caruaru, localizada no agreste pernambucano, Peixoto afirma que se pendurou no caminhão como uma forma de defesa, e não para tentar impedir a passagem do veículo em um bloqueio na BR-232.

Ele afirmou que havia chegado ao local pouco tempo antes e que foi até lá levar refeições e água para os participantes.


Bolsonarista agarrado em cabine de caminhão - Reprodução Twitter

Ainda segundo Peixoto, ao chegar ao bloqueio, os manifestantes estavam conversando sobre a desobstrução de uma das duas faixas da rodovia. Pneus e pedras começaram a ser retirados, para permitir a passagem dos veículos.

"Então, quando começaram a liberar eu escutei quando o motorista colocou a marcha no caminhão. Virei para ele e acenei. Eu estava a uma distância de 2 metros do caminhão e gesticulei pedindo um pouco de paciência. Não sei se ele interpretou isso errado, pensou que iria fechar a BR novamente, e aí ele acelerou", conta o empresário.

Segundo Peixoto, como ele já estava com as mãos levantadas e gesticulando, a reação imediata foi segurar o limpador do para-brisas.

"Graças a Deus que eu tive essa reação, porque hoje eu poderia estar morto. Ele acelerou a máquina para o meu lado e veio com tudo", afirmou.

No entanto, no vídeo que relata o caso nas redes sociais, o motorista do caminhão afirma que "o cara subiu aí e disse que não vai descer".

De acordo com o empresário, o material que foi retirado para desobstruir a via começou a ser jogado pelos manifestantes embaixo dos pneus do caminhão, em uma tentativa de pará-lo. E, aparentemente, o motorista se assustou e acabou acelerando mais.

Segundo Peixoto, ele percorreu cerca de 6 quilômetros agarrado ao caminhão, trajeto que teria durado cerca de oito minutos. Ele disse acreditar que, em algum momento, o veículo tenha passado dos 100 km/h, o que o deixou bastante assustado.

"Quando o caminhão começou a desenvolver velocidade, eu estava certo que iria morrer. Estava convicto que aquele era o meu último dia de vida", disse.

Conforme ele, em nenhum momento houve diálogo com o motorista. "Fixei o olhar, por umas duas ou três vezes, e perguntei: ‘você vai me matar, não é?’ Aí, acho que começou a pesar na consciência dele e ele começou a parar."

Após descer do veículo, em um trecho mais afastado do centro, Peixoto afirmou ter conseguido carona para voltar à cidade e, posteriormente, chegar em casa.

O empresário diz que, mesmo após descer do caminhão, não houve diálogo com o motorista, que afirmou apenas que não tinha interesse em se envolver em confusão.

Somente no dia seguinte, pela manhã, a família tomou conhecimento do ocorrido, quando uma pessoa compartilhou o vídeo com a mulher do empresário que, em choque, teria tentado entender exatamente o que aconteceu.

"Eu iria falar [com a família], mas gradativamente. Não iria dizer tudo de uma vez. Mas a internet não perdoa."

Sobre a repercussão, disse que não tem acompanhado os desdobramentos do caso nas mídias sociais e que um dos motivos é a falta de habilidade.

"Mas confesso que estou bastante assustado, porque este não é meu universo [redes sociais]. Me senti exposto. Inclusive, teve um site que divulgou meu nome e minhas mídias sociais."

Fonte: Folha de São Paulo

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