União Brasil encerra contrato de R$ 45 mil com Marcos Cintra depois de ataque às urnas

União Brasil encerra contrato de R$ 45 mil com Marcos Cintra depois de ataque às urnas

O economista Marcos Cintra - Pedro Ladeira - 25.abr.2019/Folhapress

Porto Velho, RO - O presidente do União Brasil, Luciano Bivar, decidiu encerrar o contrato do partido com o economista Marcos Cintra (União Brasil-SP) depois de ataques que ele fez às urnas eleitorais.

Filiado à legenda, Cintra ganhava R$ 45 mil por mês para prestar consultoria na área tributária. Os recursos, públicos, vinham do fundo partidário.

O contrato dele foi firmado com a Fundação Indigo, vinculada à legenda. O conselho curador dela é, em sua maioria, ligado a Bivar.

Cintra foi secretário da Receita Federal no governo de Jair Bolsonaro (PL) e candidato a vice-presidente na chapa de Soraya Thronicke, que concorreu à Presidência da República pelo União Brasil.

A decisão de Bivar foi tomada depois que o economista divulgou fake news ao levantar dúvidas sobre o fato de Lula (PT) ter obtido a totalidade de votos em algumas urnas no Brasil.

O mesmo ocorreu com Jair Bolsonaro, mas, em suas publicações, o economista divulgou a informação falsa de que não havia "uma única urna em todo o país onde Bolsonaro tenha tido 100% dos votos".

De acordo com reportagem do jornal O Globo, o presidente Bolsonaro teve 100% dos votos em pelo menos quatro urnas —duas delas, em Caracas, na Venezuela, e outras duas em território brasileiro.

Já Lula obteve consenso especialmente em aldeias indígenas e comunidades quilombolas.

Bivar afirmou à coluna que Marcos Cintra "não fala pelo partido".

"Nós já parabenizamos o Brasil e o Tribunal Superior Eleitoral [TSE] pelas eleições, que foram impecáveis", diz o presidente do União. "Como agora o Marcos Cintra faz um desatino desses, distorcendo dados para criar dúvidas sobre as eleições?", segue.


O presidente da União Brasil, o deputado Luciano Bivar Reprodução União Brasil

Bivar diz ainda que, se uma pessoa está sem camisa numa praia do Guarujá, é absolutamente previsível. Mas se a mesma pessoa anda sem camisa no meio da avenida Paulista, algo está errado com ela e não pode ser visto com naturalidade.

Bivar já disse que há uma tentativa de se colocar as eleições em xeque para que seja criado "o caos" no Brasil.

Marcos Cintra afirma não ter "ideia" de que contrato é esse com o União Brasil _mas Bivar diz que ele existe e está documentado. "São R$ 45 mil por mês", repete.

O economista afirma também que apenas discutiu a solidez do sistema. "Nunca mencionei ou duvidei do resultado eleitoral", afirma ele.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que a conta de Cintra no Twitter fosse retida. As postagens foram apagadas e ele terá que dar explicações em 48 horas à Polícia Federal.

As afirmações do economista, com erros em relação às urnas, alimentaram afirmações golpistas em grupos bolsonaristas de que houve fraudes nas eleições presidenciais.

Elas foram reproduzidas com o selo de virem de "pessoa pública, respeitada e famosa", um "professor e PhD em Harvard".

A especialidade do professor, no entanto, é política fiscal e tributária, sem relação com eleições e comportamento do eleitorado.


Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) lamentam resultado da apuração durante segundo turno da eleição presidencial na esplanada dos M Ueslei Marcelino - 30.out.22/Reuters

O professor diz que viu os dados sobre as urnas em redes sociais. "Verificou" a veracidade deles por conta própria no TSE e foi ao Twitter fazer os questionamentos. Disse, entre outras coisas, não ver "explicação para o JB [Jair Bolsonaro] ter zero votos em centenas de urnas".

O jornal O Globo publicou no domingo (6) reportagem que mostra que Lula ou Bolsonaro tiveram todos os votos válidos em 147 seções eleitorais, apesar da polarização que se viu no país. O número corresponde a 0,027% do total de urnas do país.

O placar foi favorável a Lula em 143 urnas. Bolsonaro conquistou a unanimidade em quatro urnas eleitorais.

Nos locais onde estavam as urnas que registraram consenso pró-Lula, segundo a reportagem, 22 tinham "aldeia" no nome, 27, "comunidade", e outras 51, "povoado".

Em Quiterianópolis, no Ceará, os indígenas Tabajaras deram 100% dos votos a Lula.

Luciano Bivar, presidente do União Brasil, ao lado do economista Marcos Cintra e da ex-candidata, senadora Soraya Thronicke - Reuters

Bolsonaro teve a unanimidade dos votos, por exemplo, num colégio do município de Chaves, no Pará, além de vencer com 100% de votos em duas urnas da Venezuela.

Em seu Twitter, o professor da FGV afirmou que "quilombolas e indígenas não explicam esses resultados, sob pena de admitir que comunidades foram manipuladas". E disse que o TSE devia "explicações".

"Acredito na legitimidade das instituições. Não admiti que o TSE seja cúmplice, no caso de descobrirem algum bug no sistema. Mas, sim, se tornará cúmplice se não se debruçar sobre esses fatos e esclarecer tudo", disse ele.

Depois de ter a conta retida, ele afirmou estar "triste" e "preocupado" com a censura no país.

Fonte: FOLHA com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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