Entenda como a Bolívia ajudou a moldar a identidade de Rondônia

Entenda como a Bolívia ajudou a moldar a identidade de Rondônia


Saltenha — Foto: Tácita Muniz/G1

Porto Velho, RO - Comemorado em 6 de agosto, o Dia da Cultura Boliviana e a Independência da Bolívia é uma data que reforça o quanto o país está presente no dia a dia dos rondonienses — especialmente nas cidades próximas à fronteira, como Guajará-Mirim (RO) e até mesmo em Porto Velho.

Porto Velho é a única capital do país que faz fronteira com uma nação estrangeira. No entanto, a influência boliviana vai além da geografia: ela está no idioma, nos pratos típicos, nas festas e até na forma como os rondonienses expressam sua fé.

“A proximidade geográfica entre Rondônia e a Bolívia, com Porto Velho sendo a única capital brasileira que faz fronteira com um país estrangeiro, moldou profundamente a cultura regional”, explica o historiador Alekis Palitot.

Segundo o historiador, é comum ouvir o “castelhano” na fronteira, um reflexo da convivência diária entre brasileiros e bolivianos. Mas a mistura de culturas vai muito além do sotaque.


Festa do Divino Espírito Santo, saltenha e massaco — Foto: Filme “O Divino Guaporé", AbrasOFFA e Sabor Raíz

Da saltenha ao massaco: sabores que contam histórias

Quem anda pelas ruas de Porto Velho ou pelas feiras de Guajará-Mirim já deve ter cruzado com a saltenha ou o massaco. Esses pratos, de origem boliviana, conquistaram o paladar rondoniense e hoje fazem parte da rotina local.

A saltenha, uma espécie de empanada recheada com carne, tem origem argentina, mas foi reformulada na Bolívia e, depois, adotada em Rondônia. Já o massaco, feito com banana ou mandioca socada com carne seca, é tradicional do lado boliviano e ganhou versões locais nas cidades da fronteira.

“A culinária também reflete essa interação, com pratos como a Saltenha e o Massaco, o massaco um prato feito com massa de banana e mandioca originalmente boliviano, tornando-se populares em Porto Velho e cidades fronteiriças”, comenta Palitot.

Fé que atravessa rios

A influência boliviana também aparece na religiosidade. Um exemplo é a Festa do Divino Espírito Santo, celebrada há mais de um século nas comunidades ribeirinhas ao longo dos rios Mamoré e Guaporé.

“Este evento fluvial exemplifica a integração cultural entre os dois países, reforçando laços históricos e espirituais”, disse o historiador.

A celebração envolve procissões de barcos, cantorias, partilhas de alimentos e rituais que unem famílias bolivianas e brasileiras.

Bolívia na história de Rondônia

De acordo com Alekis Palitot, durante o Ciclo da Borracha, entre o fim do século XIX e o início do século XX, a Bolívia teve papel central no desenvolvimento da região.

A cidade de Santo Antônio, por exemplo, era dominada por bolivianos antes mesmo da fundação de Porto Velho. Por lá, funcionava um grande armazém dos chamados “reis da borracha”.

“No Ciclo da Borracha existiam empresários que foram fundamentais na exportação do látex e na navegação fluvial, utilizando mão de obra indígena boliviana”, explica Alekis Palitot.

Ele também destaca a importância da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, uma das obras mais emblemáticas da história da Amazônia. Inaugurada em 1912, a ferrovia foi construída para permitir o escoamento da borracha boliviana até o porto de Belém, superando as perigosas corredeiras do rio Madeira, que impediam a navegação.

A construção da estrada foi resultado de um acordo entre Brasil e Bolívia, após a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 1903, que também garantiu ao Brasil o território do Acre. Como compensação, o governo brasileiro se comprometeu a oferecer uma alternativa de transporte para os bolivianos, e assim nasceu o projeto da ferrovia.

“A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, concluída em 1912, também carrega a marca da relação com a Bolívia. O empreendimento, criado para facilitar o escoamento da borracha boliviana, atraiu trabalhadores de várias origens, incluindo indígenas bolivianos e brasileiros nordestinos, que enfrentaram as adversidades da floresta para concretizar a obra”, disse.

Fonte: G1, RO
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